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Gichin Funakoshi (船越 義珍)

Written By Marcelo Jesus on sábado, 2 de dezembro de 2017 | 19:21



Gichin Funakoshi (船越 義珍) ou Funakoshi Gichin foi o fundador do estilo de Karatê Shotokan e foi o responsável pela difusão do karatê nas ilhas principais do arquipélago japonês e posteriormente para o ocidente.

Nasceu na cidade de Shuri na ilha de Okinawa uma das ilhas do arquipélago RyuKyu, ao sul do Japão em 10 de novembro do ano de 1868, durante a Restauração Meiji, pertencente a uma família de linhagem Samurai, filho de Gisu Funakoshi.

Aos onze anos iniciou seus estudos com Yasutsune Azato com quem aprendeu o estilo Shuri-te e com Yasutsune Itosu com quem aprendeu o estilo Naha-te.


Nessa altura a prática de artes marciais era proibida e daí as atividades serem feitas á noite, no quintal da casa de Mestre Azato. O treino era muito rigoroso e tinha como filosofia o “Hito Kata San Nen” ou seja, uma kata para três anos. Durante os treinos, também aparecia para os observar e ensinar outro Mestre, Yasutsune Itosu. Estes treinos obedeciam a uma rotina dura e rígida e contribuíram após vários anos de prática para fortalecer a saúde de Funakoshi, que fora uma criança frágil e doente. Em 1888 com 21 anos, inscreveu-se e foi aceito como professor de uma escola primária, aproveitando a cultura adquirida desde a infância, com os seus avós, que lhe ensinaram os clássicos chineses.


Em 1902, aproveitando a visita do inspetor escolar da prefeitura de Kagoshima, Shintaro Ogawa, à escola de Funakoshi, foi realizada uma demonstração de Karatê. Ogawa ficou bastante impressionado com as qualidades pedagógicas de Funakoshi e escreveu um relatório bastante favorável às virtudes da prática do Karate. Este embora praticado à porta fechada já tinha deixado de ser secreto. Foi a partir daqui que a sua prática foi oficialmente autorizada nas escolas. Contra a opinião de muitos dos mestres mais antigos de Okinawa, que eram contra a divulgação da arte, Funakoshi apoiou Itosu, na introdução do Karate no sistema de ensino público, ensinando Katas como parte das aulas de educação física. Para esse propósito, Itosu criou um novo grupo de katas, de fácil aprendizagem as Pinans (Heians). Anos mais tarde, Funakoshi e alguns dos seus alunos fizeram uma demonstração de Katas perante o Almirante Rokuro Yashiro. Enquanto Funakoshi comentava, os seus alunos iam efectuando os movimentos. Mais uma vez, Funakoshi impressionou os seus espectadores com a maneira como ensinava, dando especial importância à formação do caráter e auto-disciplina. Após a demonstração o almirante pediu aos seus homens para começarem a aprender a arte. Em 1912, outro almirante, de passagem em Okinawa, mandou alguns subordinados seus aprenderem Karate durante algum tempo. Foi, graças a estes dois oficiais da marinha que o Karatê começou a ser comentado em Tóquio. Durante os anos de 1914/15 um grupo que incluía Mabuni, Motobu, Kyan, Gusukuma, Ogusuku, Tokumura, Ishikawa, Yahiku e Funakoshi realizaram muitas demonstrações em Okinawa.

Em 1916, na continuação da promoção do Karate, foi convidado como representante da prefeitura de Okinawa para fazer uma demonstração no Butoku-Den em Kyoto. Foi esta a primeira vez que o Karate, depois de tanto tempo em segredo, foi mostrado fora de Okinawa. Em 1921, o príncipe herdeiro Hirohito, em viagem para a Europa, faz escala em Okinawa e assiste a nova demonstração de Karate, liderada por Funakoshi. Nessa demonstração, ele executa o seu kata preferido, Kushanku (Kanku). No final desse ano, recebe o convite para fazer uma demonstração em Tóquio integrada num festival atlético a se realizar de 30 de Abril a 30 de Maio de 1922. Funakoshi aceitou imediatamente, vendo uma boa oportunidade de divulgação do Karatê. A demonstração foi um tal êxito, que Funakoshi foi rodeado de pedidos para ficar no Japão a ensinar Karate. Um dos principais entusiastas para a sua continuação em Tóquio foi Jigoro Kano, o fundador do Judô e presidente do Instituto Kodokan. Kano era provavelmente o mais famoso e conceituado praticante de artes marciais do Japão, porque além de educador era uma figura muito respeitada no nascente movimento olímpico. Funakoshi decidiu ficar mais algum tempo, de modo a fazer mais algumas demonstrações no próprio Kodokan.

Em 4 de Junho, Funakoshi, assistido por Shinkin Gima, um estudante de Okinawa que tinha estudado Karatê com Kentsu Yabu, fizeram a demonstração no Kodokan. Esperavam uma pequena audiência, mas foram surpreendidos com mais de 200 Espectadores. Funakoshi demonstrou o Kushanku (Kanku) e Gima o Naihanchi (Tekki) e juntos executaram aplicações dos Katas. A esta altura já tinha percebido que se queria que o Karatê se espalhasse pelo Japão, e teria que ser ele a fazê-lo. Resolveu ficar em Tóquio até que a sua missão estivesse cumprida. Funakoshi tornou-se um grande amigo de Jigoro Kano, e foi com a ajuda deste que conseguiu que o Karatê se espalhasse pelo Japão. Kano apresentou-o às pessoas certas da elite social japonesa.O primeiro dojo de Karatê foi criado num dormitório para estudantes de Okinawa. Ali além de ensinar Karate, trabalhava como jardineiro, porteiro e encarregado da limpeza de modo a assegurar o seu sustento. Em 1922, a pedido do pintor Hoan Kosugi, que entretanto tinha começado a praticar Karatê, publicou o seu primeiro livro: “RyuKyu Kenpo Karate”. Entre os seus primeiros alunos japoneses incluíam-se Hironori Ohtsuka o futuro criador do Wado-Ryu, Isao Obata e Masatomo Takagi. Os treinos eram baseados em Katas, só em 1925, é que o combate – Kumitê, foi introduzido. A expansão nas universidades iniciou-se na de Keio com Obata em1923 e na de Tóquio com Ohtsuka em 1926. Esta expansão obrigou Funakoshi, a reformular a sua arte, como forma de atrair mais pessoas. Em 1936, mudou os caracteres utilizados para escrever a palavra Karatê. O termo “Kara” significava China, e “Te” Mão. Para aderir ao gosto japonês mudou o caracter “Kara” para vazio. Assim o significado de Karatê, passou de “Mãos Chinesas”, para “Mãos Vazias”, isto é, houve um afastamento do Karatê das suas raízes chinesas, numa época de forte nacionalismo japonês.  Ao mesmo tempo iniciou um trabalho de revisão e simplificação que passou também pelos nomes dos Katas. Em 1938, a exemplo do Judô, instituiu o sistema de graduações, baseado nos Dan e Kyu. Em 1939, tinha Funakoshi 71 anos, é aberto o Shotokan Dojo, construído às custas de donativos particulares.

Com o início do 2º Guerra Mundial, e a participação do Japão, a grande maioria dos praticantes de Karatê foi alistada. Funakoshi e a esposa, que entretanto tinham abandonado Okinawa, retiram-se para Kyushu no sul do Japão, lá ficando até 1947. Só nesta data, após a morte da esposa, é que Sensei Funakoshi retorna a Tóquio, à procura dos seus antigos alunos. Terminada a guerra todas as Artes Marciais foram completamente banidas. A proibição da sua prática é completamente levantada, em 1948. Com o início da prática, começam as tentativas de reorganização dos clubes privados e universitários, em direção a uma única organização. Sensei Gichin Funakoshi morreu em 26 de Abril de 1957, deixando atrás de si a gênese do Karatê moderno.

Funakoshi escreveu vários livros, incluindo sua autobiografia: "Karatê-do Meu Modo de Vida", seu legado, no entanto, está num documento contendo suas filosofias de treinamento de karatê chamado: Niju kun, ou os "Vinte Preceitos" com 20 regras que norteiam os princípios do Karatê.

Em 1º de dezembro de 1968, um memorial foi erigido em homenagem a Funakoshi, projetado por Kenji Ogata em cuja lápide negra se lê: "Karate ni sente nashi" - traduzindo - "No Karatê não há ataque", o segundo preceito relacionado por Funakoshi.

Monumento em Enkakuji, Okinawa em homenagem aos cinquenta anos da morte de Funakoshi

Em abril de 2007 foi erigido um monumento em Enkakuji, Okinawa em homenagem aos cinquenta anos da morte de Funakoshi, honrando suas virtudes e grandes contribuições como um pioneiro do Karatê.
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About Marcelo Jesus

Estudioso de história, entusiasta do Karatedō, começou a treinar em 1978 Karate Shorin Ryu com o Prof. Sergio Pinto no Centro Social Urbano (CSU) da Cidade de Deus. Fala fluentemente o idioma inglês e já atuou no exterior como tradutor/intérprete. Após uma pausa voltou aos treinos já no Shotokan Ryu, que continua até hoje. Atualmente ministra seus treinos na Escola União Artes Marciais no Recreio dos Bandeirantes - Rio de Janeiro.

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